Mais um dia de trabalho. Quase normal porque é em Moçambique. Normal seria em Portugal. Ainda não me habituei a muitas coisas.
Ida ao escritório na Matola, a 15 minutos de Maputo sem transito e 1 hora e meia com transito.
O transito é das piores coisas de cá. As estradas, os condutores, "os chapas" e...a policia fazem que se torne ainda pior.
Por causa destas coisas é que opto sempre por voltar pela Avenida 24 de Julho, apesar de ter mais movimento, a estrada é razoável e há menos policia. Demora-se ainda mais tempo pelos vários semáforos que se encontram. Mas juntando tudo compensa porque pela 25 de Setembro há grande probabilidade de ser parado...
Era uma dessas viagens. Parei no semáforo .Vidro aberto e braço de fora (sem pensar), por causa do calor e eis que alguém, vestido normalmente me mostra um cartão e pergunta se não tinha ouvido um apito para encostar uns metros atrás. Começou a história.
-Não ouvi, peço desculpa mas não ouvi mesmo. Mas há algum problema Senhor agente?- fiquei logo a transpirar e a tremer. Não tinha ouvido mesmo nada.
-O senhor sabe o que fez?- aumentou a agressividade.- Encoste aí. O senhor não sabe que não pode andar com o braço de fora?
Ora bem...quando ouvi aquilo apeteceu-me rir, por o carro a trabalhar e ir embora. - A sérioooo?
- A sua carta por favor. O senhor está a brincar comigo.- A cara de mau assustou-me e a primeira coisa que me veio à cabeça foi o de sempre... o gajo quer uma nota. O tal refresco.
- Olhe, estou cá à pouco tempo e não sabia mesmo disso. Não estou a brincar com ninguém.- já um pouco assustado por causa da agressividade.
O gajo estava à paisana e tinha o cenário todo montado. Pega no telefone e liga a alguém que seria a chefe que estava na operação com ele e que prontamente veio ter com ele.
- Está aqui a minha chefe, fale com ela. Por mim vamos já ao posto.
Dirigi-me então à agente.- Peço desculpa mas não sabia que não se podia andar com o braço de fora. O senhor agente aqui pelos vistos mandou-me parar mas eu não ouvi. Parei à frente. Estou com um pouco de pressa por isso volto a pedir desculpa e se tiverem que passar alguma multa...peço que passem por tenho mesmo que ir.
- Vamos ao posto já. Abra a porta por favor.- A tipa mais calma mas mais convicta.
- Não, se vamos ao posto ou vamos no vosso carro ou vamos a pé. Aqui não vamos.- Ao ouvir isto o tipo pega no telefone e liga para o posto a pedir um carro para me vir buscar. Cada vez tremia mais.
- O senhor está a brincar com a gente. Não vai correr bem.- outra vez o tipo.
Ao ver as coisa já a tomarem um caminho torto, optei por um discurso mais choradinho, a apelar ao coração. Estava à pouco tempo cá, ia para uma reunião e podia ser despedido se não chegasse a tempo e que pedia imensa desculpa e essas coisas todas. Aí conversaram os dois e...
- Pronto. Já que está com pressa e está cá à pouco tempo podemos resolver isto de outra forma.- Olhar cúmplice entre os dois, e aquela pergunta: - Quanto tem aí?
Já sabia. Já estava à espera. Fui ao bolso onde pensava ter uma nota de 100 meticais e até nisso me enganei. Tirei uma de 500.- Olhe só tenho isto.
Entreguei a nota ao tipo e eis que...- Saia do carro, o senhor está preso. Somos da brigada anti- corrupção.
Caiu-me tudo. Mudei de cor. Gelei. Só queria sair dali.
-O Senhor tem advogado? Sabe que pode ser deportado? O carro está a demorar. Vamos nós ao posto, abra a porta.
-A porta não abro, esperamos ou vou atrás de vocês. Devolva-me a carta por favor.- Corajoso e estúpido. Eu! Ao ver que estava assustado o tipo devolveu-me a carta e disse-me para ligar a alguém que iríamos ao posto "ali do outro lado da rua". Foi o que fiz. Liguei ao meu chefe que me disse para não sair do carro.
Mais calmo e a aguardar pelo carro que me iria buscar a atitude de devolução da carta serviu para criar laços...
- Sabe que se for ao posto serão no mínimo 38000 meticais e pode voltar para Portugal. Eu falo com a minha chefe e se tiver aí uns 5000 a gente termina por aqui...- era isto. Acabava de perceber que os gajos eram uns impostores. Que estava a ser enganado mas não podia sair de qualquer forma não fossem eles estar armados ou coisa parecida.
- Não tenho mais nada senhor agente. A sério...- e no meio da justificação passa um carro com policias a sério, que andam sempre aos 10.
Vi o nervosismo dos dois e comecei a buzinar e a acenar para o carro.
Ele agarrou no braço dela e fugiram. E mais que isso eu é que fugi daquilo. Que violência...
Foi a primeira vez que realmente tive medo. Não eram policias e para que conste...é mesmo proibido andar com o braço de fora na estrada. Punido por lei....
Ufa...
Bruno
Sem comentários:
Enviar um comentário